A cada dia que passa, navegando pela internet, encontro mais e mais blogs de professores destinados a sugerir atividades para os colegas de profissão. Muitos fotografam suas aulas e expõem suas experiências positivas – estes eu admiro. O que me assusta é a quantidade de blogs sem compromisso com o verdadeiro sentido de educar.
O que é educar realmente? Educar é transformar o animal humano em cidadão ativo e participativo na sociedade. É levar os alunos a crítica, ao questionamento, é desenvolver habilidades. A escola deve exercer um papel de humanização a partir da aquisição de conhecimentos e de valores para a conquista do exercício pleno da cidadania. E educar para a cidadania é educar para uma democracia que dê provas de sua credibilidade de intervenção na questão social e cultural. Isto exige uma prática educativa, participativa, dialógica e democrática, que supere a cultura autoritária – de simples transmissão de conhecimento. Todas as atividades escolares devem promover a construção conjunta.
Não é um trabalho fácil nem tampouco simples. Como já dizia Paulo Freire "Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo". Será que os professores não sabem que tem nas mãos este poder e esta responsabilidade? Creio que sabem mas nem todos tem coragem, engajamento e paixão suficiente para “por a mão na massa” e educar de forma efetiva, significativa.
Vejo blogs elogiadíssimos onde há um “copia e cola” de livros didáticos e pedagógicos. Alguns com imagens ainda nítidas que podem servir como material de pesquisa, outros nem isso. E onde está a análise crítica? O que fazer com o material exposto? Simplesmente achar bonitinho, xerocar e transmitir aos alunos? Creio que alguns vão unir os diversos materiais e planejar o que fazer com ele – adaptar a realidade da instituição em que trabalha e as necessidades de seus alunos. Mas estes são a exceção – o que confirma que há uma regra. A grande maioria vai transmitir e só.
É fundamental filtrar a quantidade de informação que é transmitida através da internet. Quantidade NÃO é qualidade. Quantidade não educa.
Outro dado igualmente assustador é ver educadores que se preocupam exageradamente com paineis, murais, lembranças, enfeites de toda ordem – feitos por eles – belíssimos sem duvida, mas sem sentido algum. Não quero aqui defender a idéia de manter uma sala de aula feia e sem atrativos visuais, não é isso. Mas me pergunto se todo educador é artesão. Se todos têm habilidades manuais. Se todas as escolas têm recursos e materiais disponíveis para a confecção. E ainda, se isto é dado pronto às crianças. Não é de se estranhar que existem aqueles que menosprezam a profissão de professor e acham que aprendemos nos cursos de pedagogia artesanato, que nossas provas são como escrever em papel pardo ou coisas do tipo. A questão é ainda mais grave se pensarmos que aprendemos exatamente o oposto. Aprendemos a valorizar e a incentivar a criatividade dos alunos e que são eles, e suas construções e descobertas, que devem ser expostas nos paineis, murais, se são as lembranças que eles confeccionam as significativas e não aquelas que vem prontas e mesmo muito bem feitas acabam, em breve, na lata do lixo.
E o tempo perdido com isso? Não poderia ser gasto planejando uma aula dinâmica, interativa, emocionante? Não poderia ter sido gasto lendo um bom livro que acrescentasse em sua práxis? Então, o que proponho é a prática do professor orientador, facilitador, amigo, parceiro, e não detentor do saber absoluto. Propor a prática da construção de conhecimento junto com os alunos. Do professor – educador e não artesão.
Não quero desrespeitar o trabalho de ninguém mas sim levantar a questão para uma reflexão. Os artesãos devem ser respeitados e valorizados pelo seu trabalho e o professor, pelo dele, cada um exercendo a sua função.
Presentear os alunos e enfeitar junto com eles o ambiente escolar é fundamental e importante sim, é óbvio, mas o que quero enfatizar é o como fazer isso e aliar tal prática ao objetivo mor que é educar, no sentido pleno da palavra.
Todas as atividades escolares devem promover a construção conjunta. "... aprender não é um ato findo. Aprender é um exercício constante de renovação..." Portanto, pensem nisso...